André PLEZ
Os Insones
O livro inicia com o prólogo envolto em mistério, pois Daniel, um amigo do narrador-personagem, confessa que recebeu o romance por e-mail, enviado por Ivan, que partiu para a Europa em busca de respostas para o estranho mistério que circunda sua família.
O mistério inicia-se por Joana, a insone, onde o narrador-personagem conta a história de sua avó, ladeando suas reminiscências na tentativa de explicar o estranho comportamento da senhora que nunca dormia e que tentara suicídio jogando-se pela janela do prédio. A partir das suas investigações, conhece o passado obscuro da sua estranha linhagem, pois o foco da narrativa mergulha na história da família, revelando que o mal dos insones é algo antigo, repleto de segredos.
Após a investigação de Joana, um novo capítulo busca compreender os vestígio de Tomás, pai de Ivan, que desde criança o preparara inconscientemente para uma investigação profunda sobre as causas do mal dos insones. As reflexões do pai ajudam-no a buscar forças para sua investigação imprecisa, que o leva à Europa. Adentrando em um povoado inglês, Ivan descobre o “Círculo dos Insones”, e participando das reuniões secretas descobre a raiz do seu mal, que consiste em um pequeno povoado na gelada Rússia. Ivan parte, acompanhado dos novos amigos insones, para este povoado gelado e ermo, e depois de um estranho ritual, descobre o sentido de todo aquele enigma.
É uma reflexão sobre a alma humana, que cravada na impossibilidade de dormir, tem o pensamento envolto por um pessimismo lúgubre, revelando particularidades da nossa natureza que se destaca como um ensaio sobre a insônia.
OS INSONES é o sexto romance do escritor e professor André Plez, que tem como narrador-personagem o jovem Ivan, que pertence a uma família que sofre de um mal inusitado: a impossibilidade de dormir.
O romance relata a busca do jovem Ivan por respostas, pois a estranha doença, que circunda a vida de seus antepassados, logo o atingirá: a ‘insônia que nunca acaba’. Em sua busca, Ivan redescobre a vida de seu bisavô Francisco, conhecendo os mistérios de sua avó Joana até compreender as estranhas atitudes de seu pai Tomás, que o preparava ainda na infância para buscar uma cura para o mal dos insones. A partir destas pistas, Ivan mergulha em uma aventura de enigmas, levando o leitor até o final do livro, quando finalmente descobre o motivo de tão estranha doença do espírito. É uma investigação da alma humana a partir da perspectiva de pessoas impossibilitadas de dormir, que perderam seu bem mais precioso: o descanso.
É um ensaio sobre a insônia.
Trechos do romance
JOANA, A INSONE
Uma vez disseram que a senhora Joana tinha um grande mistério velado, nunca antes relevado a nenhuma criatura, nem amiga nem família, nem mesmo ao padre que sempre visitava, numa periodicidade de minutos contados, às quartas-feiras e aos domingos pela manhã, sempre às oito horas; mas o fato era que ninguém conseguia adivinhar suas misteriosas façanhas, as quais escondia através das profundas olheiras que cercavam seus olhos de um negro denso, que povoava seu rosto fino de senhora que beirava os sessenta anos. Mas que sensação poderia causar uma senhora comum como aquela, que caminhava tranquilamente pela alameda, vergando um pouco as costas de tempos em tempos, aprumando a coluna que começava a soltar faíscas por conta do desgaste; como poderia uma senhora como a Joana despertar alguma curiosidade, no caso, um suntuoso mistério que beirava seu caminhar. O fato era que, para malogro de Joana, seu caso virou matéria de imprensa, e para o seu dissabor, todos ficaram sabendo do seu vôo pela madrugada, onde, por um obséquio divino (o padre comentou em seu opróbrio tratar-se de um milagre!), salvou-se por conta dos velhos arbustos, deixando somente arranhões e uma frágil costela quebrada, além da dor aguda nas costas, que a encurvava vez ou outra. O leitor deve estar confuso, se perguntando que tipo de vôo foi esse, ou mesmo que mistério teria uma senhora como aquela... O fato era que Joana atraía olhares para si, que se desviavam sempre que possível, num frenesi de manter-se ainda mais na taciturnidade, na discrição erma de um eremita sem longas barbas, apenas a velha e sempre enegrecida olheira.