André PLEZ
A Coisa em Si
A proposta do livro é ressaltar a função poética da linguagem, que busca a palavra-primeira, aquela palavra pura, que quer ser aquilo que representa, livre da nomeação pragmática. Uma rosa no poema é a própria rosa, com seus espinhos, perfume, cores e flores. A rosa é representada pela palavra. A palavra, por sua vez, é a própria rosa, é "a coisa em si". O livro é o resultado de um lirismo ornado por uma multiplicidade de sentidos, eixos temáticos, ritmos e imagens, próprios da natureza humana. É um livro que se torna um "ser de linguagem", uma coisa em si.
Lançado em 2008 pela Casa do Novo Autor Editora
Vendas on-line: http://www.casadonovoautor.com.br/livro.asp?c=513
O FAZER POÉTICO II
Cuidado!
Um discurso está nascendo
(e outro sendo interpretado
e analisado
e ato-falhado)
O melhor que tens a fazer
ao travar esse contato
É se preparar
Pois do trivial
Nasce uma estrela de vidro
Pronta para encher o olvido
De quem não a tocar
* * *
Um segredo:
De lá das palavras / Se esconde a beleza / Em seu fundo todo azul
A COISA EM SI
Qualquer que seja a coisa
Ou a não-coisa
Estaremos por aqui
Nessa mania de tentar ser coisa-em-si
Freneticamente em-si
Para poder sonhar no fora-de-si
Se espelhando no-ser-em-outro
Acreditando que estamos no-outro-e-pelo-outro
E, dessa maneira, enfim, felizes
O que não deixa de ser cômico-trágico
Como uma ansiedade mesclada à nostalgia de nós-mesmos
Que se torna, em ritmo roseano,
Numa ansialgia
Ansialgia de um tempo-em-si-mesmo que não volta
E que está preso
Em algum lugar desse alguém-em-si
Que somos nós-mesmos aqui e ali
ENTREGA
Trêmula, sentada à cama
Olhas a teu redor com receio
Enquanto palpita o teu seio
Atiça a minha cruel chama
És a virgem de meu feitiço
E neste pálido quarto anuviado
Fico aqui sentado
Esperando o teu reboliço
E quando me olhas temerosa
Sorrio-te cordial e desmedido
Vem-te a mim deleitosa
E abre-se o teu sentido
E tua clareza ruidosa
Abraça-me com um pedido
MINHA SAGA
Apenas uma gota de imprecisão
Que em verdade
Somam-se de muitas
Que me chuviscam na imprecisa memória
Gostaria tanto de saber
O que tenho que resolver
Não apenas como escritor
Mas como ator
De mim mesmo