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Exagerados encantos de Elena

Este é o sétimo romance escrito pelo escritor e poeta André Plez, que tem como narrador o próprio protagonista, o jovem escritor Rodrigo de Mattos, que não consegue escrever seu romance, pois conhece a jovem e misteriosa Elena, figura mítica, que surge para transgredir a realidade monótona da cidade do interior e suas relações vazias e interesseiras.

O livro inicia-se com uma pergunta central, na qual divaga o narrador durante todo o percurso do romance: "Qual o preço de um amor?"

O narrador-personagem transmite seus pensamentos a partir da ideia de epifania, ou seja, de um fluxo de consciência constante, mesclando suas observações pessoais em meio às descrições de cenas e sensações do real. O tempo no romance se torna atemporal, pois o autor dialoga com o leitor, numa polifonia que mistura o existencial e o social, fazendo com que os leitores alcancem um diálogo com o autor ficcional da obra, atingindo um nível de percepção estilística diferenciado.

Três personagens se encantam por Elena, e tudo é descrito por Rodrigo de Mattos, que se autointitula "O Espirituoso". Neste capítulo, o escritor divaga sobre suas experiências com Elena, buscando compreender e justificar sua dor de amor, revelando sua fragilidade diante da mulher independente. É uma reflexão ampla, que vagueia sobre a cidade do interior e suas relações típicas, revelando a atmosfera que compõe as pequenas cidades. O narrador-personagem também reflete sobre o papel do artista e a dificuldade em assumir-se profissionalmente como escritor, revelando os percalços que trava durante suas tentativas como artífice das letras.

Três homens se perderam nos encantos de Elena, e o segundo foi o Dr. Marcus Vinícius, que o narrador designa como “O Abastado”. Neste capítulo, o personagem é um médico conceituado na pequena cidade, sendo uma referência em sua especialidade como ginecologista. As descrições do narrador neste momento revelam as sutilezas de tal posição social numa cidade interiorana, demonstrando as vilanias, as máscaras sociais, e as tentativas de se manter em uma casta privilegiada, custeando para isso sua própria liberdade e desejos. Mostra um homem maduro, com um casamento de décadas, que possui todo um papel social para administrar, sendo enlaçado por Elena, sendo que tal experiência leva-o a repensar em sua vida e em suas ações, condicionando-o a perceber a chegada da velhice e a tentativa frustrada de tornar-se espiritualmente e fisicamente jovem.

O terceiro personagem é protagonizado pelo frentista de posto Cristiano, chamado de “O Galã”; homem corpulento e bonito, que encanta facilmente as mulheres, conquistando-as como um Don Juan grosseiro, que contabiliza seus encontros e se mostra como um homem dominador e sem pudores. Conhece Elena enquanto abastece seu carro, e logo consegue marcar um encontro com a bela jovem, que o deixa esperando por toda a madrugada. Já cheio de furor pelo descaso, o frentista consegue interceptar Elena, e esta o leva até um motel. Porém, diante do poder de dominação da jovem, Cristiano sente-se oprimido e não consegue mostrar todo o seu potencial como amante, e é terrivelmente ridicularizado pela moça bela e vivaz.

Desta forma, o livro narrado pelo “espirituoso”, analisa estas três visões sobre o masculino, discutindo o paradoxo do “sexo forte”, que se torna frágil diante de uma mulher independente e livre de compromissos e explicações, como é o caso de Elena, filha da elite interiorana, que surge na cidade após concluir a pós-graduação no exterior e simplesmente usa estes homens (antes dominadores) como meros objetos de prazer. É uma inversão de valores, contrapondo a disseminação do machismo histórico, que sempre posicionou a mulher como objeto passivo do desejo masculino.

O livro é composto por seis capítulos, sendo eles: Prólogo; Sobre os três afortunados; O espirituoso; O abastado; O galã e A face no espelho. O narrador-personagem mescla seus delírios, suas dores, rancores e objeções dialogando com o leitor, que julga que nunca existirá, pois a obra em si, seria um rompante de sua desventura com Elena. O narrador consegue contar as versões das outras personagens, pois ouve seus relatos depois de uma grande bebedeira, após a despedida silenciosa de Elena, que volta para os Estados Unidos para casar-se com um “gringo”. Todos se sentem usados, como se fizessem parte de enfeites da “despedida de solteiro” de Elena, que usa-os sem pedir nada em troca, nem deixando nada para eles; criando um vazio em suas almas, antes acostumadas e regrar e dirigir as relações amorosas.

Nas imagens interiores criadas pelo narrador, o universo ficcional reflete as múltiplas faces do masculino no século XXI, trazendo neste “questionamento-literário” uma angustiada busca pela definição de sua experiência e identidade, diante do assujeitamento do homem, do eu, diante da mulher forte e independente.

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